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Trechos de Peças da Antiguidade Clássica Grega

Os textos a seguir são trechos de duas peças da Antiguidade Clássica grega: Lisístrata, do autor Aristófanes e Édipo Rei, de Sófocles.

 

LISÍSTRATA

 

Em Lisístrata, a história se passa em Atenas, na Grécia, cerca de 411 anos a.C. Nesse período, acontecia a Guerra d Peloponeso, um grande conflito gerado pela rivalidade econômica entre Atenas e Esparta, duas  importantes cidades gregas, e que envolveu várias outras, que se aliaram a uma ou outra.

 

Na peça, a personagem Lisístrata resolver armar um plano para acabar com a guerra. Para isso, convoca todas as mulheres  de todas as cidades gregas apara ajudá-la.

 

A cena a seguir mostra Lisístrata em reunião com as mulheres, a fim de expor o seu plano.

Lampito: Afinal, quem convocou as mulheres pra assembléia?

Lisístrata: Eu !

Lampito: Diga logo qual é a sua idéia !

Lisístrata: Antes quero perguntar algumas coisas a vocês. Depois explico meu plano.

Cleonice: Pode falar.

Lisístrata: (com fervor) Vocês não sentem saudades de seus pais e de seus filhos que estão na guerra? Sei que os maridos de todas estão no combate.

Cleonice: (suspirando): O meu, por exemplo, está na Trácia. Foi embora há cinco meses, coitado !

Lampito: E o meu não te desanso ! Mal chega de licença, pega no escudo e corre novamente pra luta !

Lisístrata: Não sobra tempo para transar ! Desde que a guerra começou está difícil encontrar algum homem pela cidade ! Se continuar assim, deixaremos  de ser cortejadas ! É por isso que criei um plano !  A nossa força de vontade acabará com essa guerra !

Cleonice: Sou capaz de enfrentar qualquer coisa !

Mirrina: Pela paz, estou disposta a tudo, podem até me cortar pelo meio feito um linguado !

Lampito: Pra ter um homem de volta, se for preciso, escalo as montanhas mais altas !

Lisístrata: Então vamos agir ! Caras amigas, só há uma saída: se quisermos recuperar nossos maridos teremos de abrir mão de...

Cleonice: De que? Diga logo, criatura !

Lisístrata: O plano é este: não fazer sexo e hipótese alguma.

(decepção geral. Todas ficam chateadas e se afastam de Lisístrata).

Lisístrata: Ei, ei .... não adianta fugir ! Pra onde estão indo ?! Ouçam com calma !

Mirrina: Abrir mão do sexo? Prefiro para a guerra !

Lisístrata: E justo você, “linguado”, que há poucos minutos se cortaria ao meio por nossa causa?

Cleonice: Topo qualquer parada, ando até sobre brasas, mas não fico sem “aquilo” de jeito nenhum [...]

 

ARISTÓFANES. Lisístrata. Tradução de Antonio Medina Rodrigues. São Paulo: 34, 2002. p. 58-61.

 

Nesse trecho, as mulheres reagem negativamente em relação ao plano de Lisístrata. Na sequência, entretanto, não vendo outra saída, aceitam o acordo. Depois de muita confusão e artimanhas, finalmente alcançam o seu objetivo e conseguem que eles acabem com a guerra e tudo fique em paz.

A verdadeira Guerra do Peloponeso durou mais de vinte anos, e outras guerras sucederam-na. Aristófanes (aproximadamente 450 a.C. -385 a.C.) foi um escritor muito importante desse período. Escreveu vários textos e que abordava questões sociais, políticas, artísticas e religiosas de Atenas, sua cidade natal.

ÉDIPO O REI

 

Édipo é filho de Laios, rei de Tebas. Antes de Édipo nascer, Laios sofreu uma maldição que dizia que seu primeiro filho ia se tornar seu assino e casaria com a própria mãe. Tentando escapar à maldição dos deuses, Laios manda matar Édipo logo após seu nascimento. Porém, o bebê é salvo por um servidor, que o entrega a Polibio, rei de Corinto. Sem saber que Polibio não é seu pai verdadeiro, Édipo, já adulto, descobre a maldição e, para que não fosse cumprida, foge para Tebas. No meio do caminho, envolve-se em uma briga e mata alguns mercadores, sem saber que entre eles estava Laios, seu verdadeiro Pai.

 

Ao chegar a Tebas, Édipo decifra  enigma da Esfinge, e quebra outra maldição que assolava a cidade. Como recompensa, é feito rei e casa-se com a recém viúva de Laios, Jocasta, sem saber que ela era sua mãe verdadeira.

 

No meio da história, Édipo resolve investigar quem teria sido o assino do rei Laios, condição para livrar a cidade de outros males.

Édipo: Tu é que entregaste a criança de quem ele fala?

O Servidor: Fui eu. Quem dera tivesse morrido naquele mesmo dia?

Édipo:  Recusa-te a falar, e é isso o que te espera.

O Servidor: Se eu falar, minha morte será ainda mais certa.

Édipo: Esse homem parece-me querer ganhar tempo

O Servidor: Não, eu já disse: fui eu que o entreguei.

Édipo: De quem era essa criança? Tua ou de um outro?

O Servidor: Não era minha. Era de um outro.

Édipo:  De quem? De que lar de Tebas ela saía?

O Servidor: Não, mestre, em nome dos deuses, não perguntes mais.

Édipo: Morrerás, se eu tiver que repetir minha pergunta.

O Servidor: Ele nascera na casa de Laios.

Édipo: Escrava? ... Ou parente do rei?

O Servidor: Ai de mim ! Chego ao mais cruel de dizer.

Édipo: E,  para mim, de ouvir. No entanto, ouvirei.

O Servidor: Diziam ser filho do rei... Mas tua mulher, no palácio, pode te dizer isso melhor do que ninguém.

Édipo: Foi ela quem te entregou a criança?

O Servidor: Foi ela, Senhor.

Édipo: Com que intenção?

O Servidor: Para que eu a matasse.

Édipo: Uma mãe ! ... Mulher desgraçada !

O Servidor: Ela tinha medo de um oráculo dos deuses.

Édipo: O que ele anunciava?

O Servidor: Que a criança um dia mataria seus pais.

Édipo: Mas por que tu a entregaste a este homem?

O Servidor: Tive piedade dela, mestre. Acreditei que ele a levaria ao país de onde vinha. Ele te salvou a vida, mas para os piores males ! Se és realmente aquele de quem ele fala, saibas que nascestes marcado pela infelicidade.

Édipo: Oh! Ai de mim então no final tudo seria verdade ! Ah! Luz do dia, que eu te vejo aqui pela última vez, já que hoje me revelo o filho de quem não deveria nascer, o esposo de quem não devia ser, o assassino de quem não devia matar!

Ele corre para dentro do palácio.

 

Moderado.

O Coro: Pobres gerações humanas, não vejo em vós senão um nada !

Qual o homem, qual o homem que obtém mais felicidade do que parecer feliz, para depois, dada essa aparência, desaparecer do horizonte?

Tendo teu destino como exemplo, teu destino, ó desditado Édipo, não posso mais julgar feliz quem quer que seja entre os homens.

Ele visou o mais alto. Tornou-se senhor de uma fortuna e de uma felicidade completas.

Destruiu, ó Zeus, a Esfinge das garras aguçadas. Ergueu-se em nossa cidade como um baluarte contra a morte. E foi assim, Édipo, que foste proclamado nosso rei, que recebeste as mais altas honrarias, que reinaste sobre a poderosa Tebas.

 

Mais forte

E quem agora poderia ser dito mais infeliz do que tu? Quem sofreu desastres, misérias mais atrozes, numa tal reviravolta?

Ah ! Nobre e caro Édipo! Assim o leito nupcial viu o filho após o pai entrar no mesmo porto terrível !

Como pôde, como pôde o campo lavrado por teu pai te suportar por tanto tempo, sem revolta, ó desgraçado?

O tempo, que tudo vê, o descobriu a despeito de ti. Ele condena o himeneu, que nada tem de um himeneu, de onde nasciam ao mesmo tempo e por tantos dias um pai e filhos.

Ah! Filho de Laios! Quisera jamais, jamais ter-te conhecido! Estou desolado, e gritos enlouquecidos escapam de minha boca. Cumpre dizer a verdade de ti, outrora, recuperei a vida, e por ti, hoje, fecho os olhos para sempre ! Um escravo sai do palácio.

 

SÓFOCLES. Édipo rei. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre. Editora L&PM, 2012 p. 72 e 77.

 

Ao descobrir toda a verdade, Édipo fura os próprios olhos e se autoexila. Jocasta suicida-se. Sófocles (aproximadamente 496 a.C. -405 a.C.) foi um dos mais importantes dramaturgos da Grécia antiga. Escreveu centenas de peças, mas apenas sete delas chegaram completas até os dias de hoje.

Referência Bibliográfica

BOZZANO, Hugo B. , FRENDA Perla.,  GUSMÃO, Tatiane Cristina. Arte em Interação. Volume Único. ARTE. Ensino Médio. IBEP. 2013

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