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Origens do Teatro

Teatro Grego

Willian-Adolphe Bouguereau, A juventude de Baco, 1884. Óleo sobre tela, 610 cm x 331 cm.

A imagem mostra a representação de um ritual sagrado praticado na Grécia antiga, em homenagem ao deus Dionísio, deus do vinho e da fertilidade. Esses rituais eram chamados de ditirambo. Os primeiros registros dessas manifestações datam aproximadamente do século VIII a.C.

 

Anteriormente aos ditirambos, acredita-se que os rituais representavam cultos agrários, de morte e ressurreição. Neles, animais eram sacrificados em homenagem aos deuses e a pele era usada como uma espécie de vestimenta em danças nas quais imitavam o animal, com dizeres aos deuses. Daí teriam surgido as primeiras formas de representação dramática.

 

Mas é difícil definir com exatidão a origem geográfica do teatro, visto que manifestações culturais acontecem paralelamente e de formas similares e todo o mundo.

 

Porém, o teatro ocidental, sistematizado como conhecemos hoje, teria surgido, segundo estudiosos das artes ciências, a partir do ritual do ditirambo.

 

Térpis foi considerado o primeiro ator de que se tem conhecimento. Ele viajava de cidade em cidade, organizando celebrações do ditirambo, que foram aos poucos transformados em dramatizações com textos, acompanhados por música.

 

Com o tempo, as celebrações foram se organizando ainda mais em suas forma, com a criação de diálogos, a separação de funções, criação de situações para representar histórias em devoção primeiro a Dionísio e depois a outros deuses, até se chegar a uma estrutura mais formal, aos primeiros textos teatrais de que se tem conhecimento e aos primeiros teatros, pela necessidade de uma estrutura física onde representar as peças.

 

Durante a Antiguidade Clássica grega, período que vai do século VIII ao II a.C., a Grécia experimentou o auge das produções teatrais dessa época, no século V a.C. Existiam atores, autores e festivais organizados e patrocinados pelo Estado, nos quais a participação da população, muitas vezes, era obrigatório.

 

Para se entender a função original do teatro na Grécia, é preciso considerar dois pontos importantes: a sociedade grega vivia sob os conceitos de mitos para entender a vida; e nessa época existia uma mentalidade civilizatória fundamentada na crença de que costumes, filosofia, arte, normas sociais e a política eram pressupostos de uma sociedade ideal. E o teatro foi parte fundamental desse processo.

 

O que se entende por mitologia?

 

A palavra “mito” vem da palavra grega mithos, que significa ‘fábula”, acontecimentos imaginados. A palavra mitologia é junção de mito e do termo grego logos, que significa “estudo”. Assim, mitologia é o estudo dos mitos.

 

Você viu, anteriormente, que o mito representa uma forma de explicar o mundo, em que o sagrado interfere diretamente nas relações de causa e efeito, nas relações ente os seres humanos e destes com a  natureza.

 

As histórias míticas aparecem em muitas sociedades, em muitos momentos da história. Cada qual com seus deveres representantes.

 

Na mitologia grega, o Olimpo, nome dado ao monte mais alto da Grécia, era habitado e regido por deuses. Cada um deles representava um aspecto da natureza e tinha uma função específica.

 

Na mitologia romana, aparecem os mesmos deuses, com outros nomes correspondentes. Alguns deles até ficaram mais conhecidos pelos nomes romanos.

 

Veja, a seguir, a imagem de uma obra de arte que reproduz alguns deuses: A imagem mostra os seguintes deuses gregos: Zeus (no trono), Hefesto,  Atena, Apolo, Hermes, Ártemis, Possêidon, Eros, Afrodite, Ares, Dionísio, Hades, Héstia, Deméter, Hera.

 

A seguir, uma breve descrição desses e de mais alguns dos principais deuses. Observe que cada um deles tem uma relação com algum aspecto da natureza, das ciências, da arte ou de características do ser humano.

 

Zeus – deus dos deuses. Na mitologia romana é chamado de Júpiter.

Hera – protetora da família. Mulher  e irmã de Zeus. Chamada de Juno na mitologia romana.

Palas Atena – deusa da prudência, das ciências e das artes. Filha de Zeus, chamada também de Minerva.

– deus dos caçadores, filho de Zeus.

Possêidon – ou Netuno. Deus do mar, irmão de Zeus.

Héstia – ou Vesta. Deusa do fogo.

Febo – ou Apolo. Deus da música, da poesia, da medicina e dos oráculos.

Ártemis – ou Diana. Deusa das florestas, irmã de Febo.

Deméter – ou Ceres. Deusa da agricultura.

Hefesto – ou Vulcano. Deus do fogo.

Hermes – ou Mercúrio. Mensageiro dos deuses.

Ares – ou Marte. Deus da guerra.

Afrodite – ou Vênus. Deusa da beleza, do amor, dos casamentos e nascimentos.

Eros – ou Cupido. Deus do amor, filho de Afrodite.

Hades – ou Plutão. Deus dos infernos.

Eríneas – ou Fúrias. Tem a função de executar as sentenças do inferno.

Dionísio – ou Baco. Deus da fertilidade, da sensualidade, do vinho. É patrono do teatro.

Príapo – ou Phallos. Deus da fecundidade. Filho de Dionísio.

Era por meio da crença nessas divindades que os gregos procuravam explicar tudo que os cercava. Na imagem anterior também é possível perceber uma formação hierárquica entre os deuses, tanto familiar – visto que eles mantinham relações de genealogia – quanto de poder. Zeus está no trono, rodeado por outros deuses, em ordem de poder e importância. A partir dessa formação, também é possível fazer relações entre as organizações sociais e políticas das cidade gregas da época, e até mesmo entre outras culturas ocidentais, que mas tarde foram influenciadas pelos gregos.

 

Na Grécia antiga, os mitos eram a base fundamental de toda a formação da sociedade. Todos os cidadãos, desde cedo, aprendiam sobre os deuses, sua relações com os “mortais” e todas as decorrências de se enfrentar ou desobedecer as regras divinas. Não eram simplesmente históricas, faziam parte da cultura como uma crença real, ditada por normas e regras que deveriam ser seguidas.

 

Dada toda essa importância para a sociedade grega, a transmissão desse conhecimento era feita de forma muito cuidadosa. Por exemplo, os primeiros narradores dos mitos eram considerados homens escolhidos pelos deuses. Tinham de ser de alta confiabilidade e seriam pessoas que teriam testemunhado o próprio mito. Esses narradores eram os chamados repsodos. Os rapsodos iam de cidade em cidade narrando os mitos em forma de poesia ou música.

 

Desta forma, as artes foram se tornando importantes meios de transmissão dos mitos. E aos poucos o teatro aparece como uma das principais, por ter adquirido a complexidade necessária para mostrar todos os aspectos da história: personagens, situações, lugares, relações de causa e efeito, entre outros. O teatro era a possibilidade de fazer o público vivenciar a história e, assim, apreendê-la de forma mais completa.

 

Tragédia

 

Da Grécia antiga, a forma de teatro que mais teve registros e textos preservados foi a tragédia.

 

Certamente, você já ouviu esse termo e é provável que também  use. Até os dias atuais, a palavra tragédia é muito usada, principalmente pelos meios de comunicação, quando se quer noticiar algum acontecimento catastrófico, de grandes proporções ou associado à morte.

 

O significado do termo obviamente foi modificando desde a época da Grécia antiga, mas ainda mantém relações de sentido.

 

A palavra “tragédia” vem do grego tragoedia. Tragos significa “bode” , e oidé, “ode”, “canto”. Assim, a tragédia pode ser entendida como “canto do bode”. Existem algumas versões que tentam explicar a relação do bode com a tragédia. Uma delas diz que, em alguns rituais, bodes eram sacrificados em homenagem aos deuses, e sua pele usada como vestimenta; em outras, que os cantos serviam para espantar (ou atrair) espíritos silvestres em forma de homens misturados com bodes e que costumavam participar dos ditirambos. Por isso, acredita-se que a tragédia como gênero teatral também tenha vindo desse culto.

 

Nas peças trágicas gregas, o objetivo maior era mostrar como os humanos estavam condicionados à vontade dos deuses e como qualquer deslize, por menos intencional que fosse, levaria o personagem à desgraça inevitável. As tragédias falam de situações sem saída, ligadas à posição do ser humano no Universo.

 

Essas peças serviam para ensinar a moral e dar ao cidadão um sentido de identidade, mostrando uma situação em que ele poderia se enxergar para seguir ou não o exemplo de algo que estava sendo mostrado. O ator era considerado uma espécie de sacerdote.

 

A tragédia, nessa época, pode ser considerada mais do que uma manifestação teatral: representava uma instituição social, patrocinada diretamente pelo Estado e por outros cidadãos de poder. Patrocinar o teatro era considerado em dever cívico.

 

As Dionisíacas, festival em homenagem aos deuses, organizado pelo Estado, duravam seis dias, e a participação do povo era obrigatória. Nelas, a principal atração eram as apresentações de teatro.

 

A produção era bastante intensa. Os principais tragediógrafos gregos de que se tem registro são: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Este último, por exemplo, produziu, em 50 anos, 92 peças, sendo que 19 chegaram completas aos dias de hoje.

 

Nas representações das tragédias, os atores usavam roupas e adereços grandes, como os onkus, uma espécie de adereço utilizado na cabeça para dar maior altura aos personagens; o coturnus, que são os sapatos de saltos grandes, nome que até hoje é conhecido; e grandes máscaras feitas de couro, pano ou madeira, que tinham algumas funções importantes, como amplificar a voz dos atores, possibilitar que o mesmo ator fizesse mais de um personagem sem revelar sua identidade durante a peça, algo que era considerado impróprio na época. Esses adereços davam ao ator uma postura hierática e sagrada.

 

Nas peças, além dos atores, um elemento muito importante era o coro, um personagem coletivo, formado por muitas pessoas, que representavam a  voz do cidadão, e que servia para difundir os pontos de vista oficiais. Discordavam e comentavam o enredo, porém sem interferir nele ou na ação. Ao coro cabiam ações contemplativas, de comentários e reflexões, ou falas para explicar acontecimentos anteriores à história da peça. O coro movia-se segundo um ritmo fixo, com seus membros juntos, cantando ao som de flautas e alternando perguntas e respostas.

 

A figura do herói também aparece nas tragédias, mas não como um semideus, como na mitologia. O herói é o personagem que desencadeia a história. Na maioria das vezes ele é o personagem principal. É ele quem sofre a falha trágica, situação em que o personagem faz alguma coisa errada sem saber, inconscientemente, mas que depois vai viver as conseqüências desse infortúnio de maneira consciente. O erro do herói trágico não é uma falha de caráter, mas uma falha por engano. O conflito na tragédia se dá entre a vontade do herói e o seu destino.

 

O público acompanha a trajetória do herói e vive com ele todos os momentos da história, culminando com a catarse, do grego kátharsis, que pode ser traduzida como “purificação” ou “purgação”. Era o nome dado à sensação que é despertada no espectador no desfecho da peça, uma descarga emocional, a fim de causar uma relação de empatia com o personagem e a história.

 

Comédia

 

A palavra “comédia” vem da junção dos termos gregos komos, que significa “rurais” ou “campestres”; e ode, que significa “canto”: “cantos rurais”.

 

Acredita-se que também a comédia tenha se originado dos rituais ao deus Dionísio, mas ela teria tomado outro rumo em relação às tragédias tanto em características quanto em funções.

 

As tragédias cultuavam os deuses e suas regras sociais, já as comédias se desdobraram dos rituais de fertilidade, celebrando a vida e os assuntos mais mundanos, cotidianos, cultuando o divertimento. Os personagens eram inventados, as histórias falavam de zombaria, defeitos, vícios, críticas sociais, sempre de forma divertida e improvisada. E os finais eram felizes.

 

Assim, tinha-se que a tragédia era digna dos deuses, e a comédia, digna dos homens.

 

Na comédia, os atores improvisavam, paravam a peça para falar diretamente ao público, fazer brincadeiras, sugerir participação. Essas pausas eram chamadas parábase.

 

Os mimos eram atores populares que improvisavam e iam de cidade em cidade levando histórias cômicas. Esses atores, segundo dados históricos, teriam representando textos falados e depois desenvolvido o gestual, originando o que conhecemos hoje como mímica.

 

Aristófanes e Menandro foram os autores de comédias mais representativos dessa época e de quem se tem mais registros até os dias de hoje. Eles participavam das Leneias, que eram as festas de comédias realizadas durante o inverno na Grécia.

Nicolas-André Monsiau, os doze deuses do Olimpo,

Gravura publicada em Les Métamorphoses d´Ovide

Em 1806, Paris

Enquanto isso... na Índia

Natya Shastra

 

Alguns estudiosos afirmam que a civilização grega herdou muito do contato anterior com culturas orientais. Por isso, apesar de a cultura grega ser considerada por muitos como geradora de formas artísticas, por sua influência inquestionável nas artes ocidentais, é impossível afirmar que esse seja efetivamente a origem geográfica das artes cênicas ou atribuí-las a algum povo especificamente.

 

O Natya Shastra, por exemplo, é um dos mais antigos escritos sobre as artes na Índia. A data de sua escrita é incerta, mas estaria entre os anos 200 a.C. e 200 d.C. O livro fala da produção de espetáculos dessa época e das formas e representações que incluíam dança, teatro e música.

Referência Bibliográfica

BOZZANO, Hugo B. , FRENDA Perla.,  GUSMÃO, Tatiane Cristina. Arte em Interação. Volume Único. ARTE. Ensino Médio. IBEP. 2013

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